TURMA DE 72 - Memórias de BQ


Vovô Souza

Encontrei o Vovô Souza há alguns anos - para falar a
verdade, há mais de dez anos, na escola de música Villa
Lobos, no Rio de Janeiro. Ví-o conversando com a moça da
Secretaria mas ele não deu o menor sinal de me reconhecer, e
eu mesmo só tive certeza de que era o vovô quando, no dia
seguinte, perguntei à secretária sobre o rapaz de cabelos
avermelhados. Ela me disse o nome, era o próprio. Percebi
que havíamos passado ambos por um episódio de amnésia
reciproca.

Entre as figuras simbólicas da turma podemos incluir o Vovô
Souza, uma criatura excêntrica e engraçada, que aparentava
ter muito mais idade do que a real.

Não tive grandes contatos com o Souza nos tempos de BQ.
Éramos mais de trezentos e havia realmente aqueles casos em
que a gente acabava passando longe de um determinado colega
durante os três anos, por circunstancias diversas. Sei que
era bastante querido de todos, mesmo porque sua pessoa
atraia imediata simpatia, sem contar o fato de que sua
distração havia se tornado folclórica, com alguns episódios
bastante engraçados, comentados na época.

Eis que me vem a memória um desses casos, do qual fui uma
das poucas testemunhas, em uma ocasião em que tirava serviço
de aluno de dia ao 1º Esquadrão.

A visão da cena permanece nítida até hoje. Eu estava no
Pátio da Bandeira e fazia aqueles sinais de praxe,
"acelerado", etc., que compunham o quadro típico de um aluno
de serviço, compenetrado em suas funções. A turma vinha
chegando para a educação física, vinda do H-8. O corneteiro
se esfalfava, Ávila berrava, etc. Os últimos retardatários
vinham chegando, entre eles o Souza, com o que parecia uma
camiseta, ainda na mão. De longe, vejo como se fosse hoje,
Vovô enfiou aquilo na cabeça, meio atrapalhado, correndo em
direção ao pátio. Mas não há santo do outro mundo que ajude
alguém a passar uma fronha pela cabeça. Minha infelicidade
no momento era não poder rir ou comentar o fato com alguém,
uma vez que a turma já se enquadrava na formatura e eu tinha
que cumprir com minhas obrigações. Ficou-me na memória para
sempre a visão daquele velhinho de cabeça branca, resignado,
caminhando de volta com a fronha nas mãos, desaparecendo nas
brumas.

Ramalho


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