O Corneteiro e os Vira-Latas
Arriamento da bandeira. Uma cerimônia que se repetia
diáriamente, à tardinha. No arriamento da bandeira não havia
a presença da banda de música, mas somente de alguns
elementos essenciais: a corneta, o bumbo, o taról, etc.,
executando a "marcha batida", uma peça curta a servir de
acompanhamento à descida do pavilhão.
O episódio que se segue aconteceu em 1972, já no final do
ano letivo. Estávamos já todos formados, o aluno de dia
esperando, o corneteiro idem, e o nosso querido Major
Silveira lá, sempre paternal e animado: "Não mexe em forma,
aluno! Cola essa mão na côxa! Aluno de dia, vai acabar
derrubando a bandeira! Segura firme!" - enfim, aquela
rotina. Tudo preparado, o major comanda o início da
cerimônia. O corneteiro faz aquele bico monumental, executa
o "apresentar armas", o surdo responde de lá, todo mundo em
posição de sentido... continência... e começa: Tá Tá tatata
Tá tata!. E eis que acontece o inesperado. Alguns
espectadores da espécie canina, elementos de péssima
reputação, que somente aguardavam o momento propício para
tumultuar o ambiente, descem o barranco que ladeava o pátio
à esquerda, à toda velocidade, em formação desordenada.
Cercam furiosamente o corneteiro, que não sabe o que fazer
para tocar sua marcha e se livrar das mordidas ao mesmo
tempo. Latindo alucinadamente, obrigam o pobre a dançar um
balé improvisado, com uma performance totalmente fora dos
padrões do RDAer. E os esquadrões em posição de sentido,
segurando como podem a risada, aquele silencio forçado, como
um caldeiro prestes a explodir... é nesse momento que o
comandante dá um extraordinário exemplo de bom senso:
- Ao meu comando. Descansar armas. À vontade em forma!
A gargalhada explode violenta na tropa, ninguém aguentava
mais. O major também extravasa sua hilariedade, vermelho
como um pimentão. Os vira-latas agora estão do outro lado do
pátio, no encalço do corneteiro, que corre apavorado com o
instrumento na mão, em busca de uma árvore salvadora.
Ramalho
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