O Major e o Barbeiro
Não creio que ninguém possa falar mal do saudoso Major
Silveira, o "Cachorrão". Lembro-me de algumas passagens
dele, já meio obscurecidas pelo tempo, é claro. O que mais
impressionava em nosso comandante do Corpo de Alunos era a
retidão de conduta, a capacidade de comandar com
tranquilidade, impondo respeito pelo exemplo. Certa ocasião
fui testemunha de uma cena impagável, no cassino dos alunos.
Em uma de suas famosas incertas o major apareceu por lá, à
noite. Foi entrando, resmungou por aqui, por lá,
cumprimentou todo mundo, dirigiu-se à barbearia. Eu lia
qualquer coisa, esperando minha vez. Um aluno do segundo ano
estava sendo atendido, já com a metade da cabeça tosada. Um
veterano de 70, mais antigo, também aguardava. O Cachorrão
entrou, olhou, fuçou... não gostou. Olhou para o barbeiro,
para mim, para todo mundo. Encarou o 70, depois o "71",
mandou que este se levantasse:
- Faz favor, aluno.
Este não entendeu nada, mas foi saindo. O major fez sinal
para que ele se sentasse em uma das cadeiras de espera. E o
rapaz obedeceu prontamente, com metade da cabeça raspada e
tudo, mas sem reclamar, é claro. O major então fez sinal
para o "70", apontando-lhe a cadeira do barbeiro. O rapaz
também obedeceu, evidentemente. O barbeiro pos-se a cortar o
cabelo deste, imediatamente. E o Cachorrão saiu resmungando,
como sempre:
- Onde já se viu? Segundo ano corta o cabelo, terceiro ano
espera. Daqui a pouco vai acabar a hierarquia na escola!!!
Ramalho
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